Thursday, December 11, 2008

Achei num caderno.

Mas eu costumo contar desde que as coroas e seus charmosos pés de galinhas dormiam franzidos com as bocas uma na outra.
Como bolas de vidro giram num seio coberto de sangue e onde seus gritos por clemência são abafados por um carrinho de picolés.
Pensamentos lúdicos, pensamentos lúbricos.
Há muito te quis como homem.
Há muito te quis como enfeite, objeto e espelho.
Há muito a diferença aqui era a pontuação.

Tuesday, November 11, 2008

Dentro da cama.

Eram ela e eu,
Eu e ela éramos.
Comum entre o elo era a pouca vergonha,
A forma destratada de se dirigir o verbo, era o quebrar de olhos feito arranhão.
Perna d’uma na outra coxa,
Coxa d’outra em resquícios.
A falha vinha debaixo.
Perto do ventre, entre as bocas.
Carne forte, breve e lenta.
Tapa voraz que o corpo agüenta.

Wednesday, September 03, 2008

Rósea

“Isso pode acontecer com qualquer um”.
Qualquer um? Eu? Quando foi que decidi ser ordinária? Decidi?
...
Pedacinho por pedacinho vou colando no futuro meu passado.
Não, não é mais assim.
Ele tem outra agora.
É nela que ele goza, é ela que ele trai.
Hoje a pele não é lisa, não é pálida.
Os dedos sobem e descem ondulações, como se lessem braile.
Eu poderia ver histórias em cada uma dessas manchas.
Não mais apetece, não encanta.
Explodem, escorrem.
A liberdade incomoda, traz coceira.
O eu que sente, o eu que pensa, exposto, crescendo feito colônia.
Vermelho. Sujo. Imperfeito.
São minhas, minhas. Sou eu.
Acaricio-as, não precisam mais sair...
Ficam à mostra, exibidas, contando aquilo que eu sei de mim.

Thursday, August 28, 2008

Achado

Presa no soneto de quem goza outro.
Para viver de contos, fugir do gosto que só se sabe ter.
Presa nas palavras semelhantes, dos olhos vastos, vários, da contramão.
Dentro do que se diz história, que mostra o corpo, que tira o rosto.
Presa no soneto de quem cala o choro, de quem gosta d’outro, quem não pede perdão.
Dentro de quem corre a linha, a mão, a tinta, sem saber p'ra quem escreve.

Monday, August 25, 2008

Algo sobre abril

Foi dia 18, não?
O show, digo.
Não sei. Às vezes penso que vivo sozinha.
Sumi é verdade... Mas não posso dizer que tenho andado por essas bandas, ou qualquer banda, qualquer uma.
Ainda não sei se me acostumei a fazer coisas.
Sinto que os dias me escapam e eu apenas vou empurrando as horas até aqueles raros momentos onde de fato vivo.
Como se tudo fosse uma espera para tal.
Mas não de forma triste, nem feliz, nem qualquer coisa.
Da forma que deve ser, suponho, para todos.
Não seria, então, diferente para mim.
É como a gente descobre que faz parte de um todo, não é mesmo?
Quando a vida não é grande coisa para ninguém.

Saturday, August 23, 2008

Fava-Amargosa

Ah, se houvesse pêra.
Se houvesse pêra tua nesse jardim de nectarinas,
Fosse eu ameixa murcha, néctar doce na fruta madura.
Tivesse ponta à rachadura, galho, flor e seiva bruta.
Jorrassem súber e terra úmida, caísse à grama sopro e luta.
Ah, se houvesse fruta.