Friday, December 14, 2007

Parece

Escapa a mão, escorre os dedos.
O que sai voando me chuta pela cortina.
Aquilo que dou não encontra mais caminho;
Cobre os olhos, torna-se cinza.
Vira, gira, torce.
O braço toca o pescoço;
E a vontade vai e volta;
Tira a parte minha que finge aindas.
Grita! Louca, aterroriza.
Volta insana e descompassa.
Cansa. Morre. Morre mais um pouco.
No céu da boca a língua.
Na seda os dentes.

Wednesday, July 11, 2007

Letra

Haverá mancha tua em cada citação;
Lembrança do teu nome em cada vontade;
Esperança dos teus olhos em cada passo pela rua;
Gosto da tua ausência em cada xícara de chá.
Eu acreditei ter ido embora,
Mas tu enches o sentido da imaginária nostalgia.
Quero teus pedaços, pecados...
Preciso ver tua cor.
Somos dois meios cruzados em palavras.
As minhas sem as tuas se esgotam,
Sem as tuas não formam frases.
Teu começo não me é físico
E meu corpo em ti é caligrafia.

Tuesday, July 03, 2007

Cortina

‘Inda que sentado em cada curva, forte como as pernas de uma puta sem ser mais meu todo coma;
‘Inda que minha culpa, usei da tua mão a mula para zelar cada buraco;
‘Inda que te apóie em meu seio, que te morda em pesadelo onde vírgula não há;
‘Inda que tua mãe vestida em santa, meio livre, meio mansa tire do tato a compreensão;
‘Inda que tua, quando tua, sempre tua, da minha boca não.

Tuesday, June 26, 2007

De lá pra cá eu já não sei.

Segunda vez.
E ela já tinha se prometido antes mesmo do ocorrido inicial que se fosse até o prédio não sairia de lá como quem não quer nada da vida.
Mas ela sabia disso – Ah, sabia! – tanto que se fez prometer toda aquela bagulhada de cousas que vem em frases pomposas.
Era aquela sua mania de apressar finais e tomar vinhos de R$ 4,97 que vivia atrapalhando.
Desceu as escadas e deu com os ombros um “Tudo bem, amanhã, amanhã...” (promessa).
Tropeçou umas duas vezes e teve certeza de que não cairia uma vez se estivesse de saltos.
Foi sempre assim, e ainda é.
Ela cuida mais quando anda sobre pontas.
Procurou uns buracos, pulou d’umas poças, fez cara de distraída e se equilibrou no meio fio.
Nada.
“Quando a gente presta atenção some”.
Bobagem!
Não compraria idéias prontas. Não nessa vida – claro que não!
Borrão amarelo cruza a rua e ela perdidamente atrasada corre atrás do ônibus xingando mais que a Dona Dalva.
Bruscamente a porta abre e do outro lado um motorista risonho:
- Quase não pega, hã?
- Engraçadinho.
Some o degrau, escorrega e caí de boca naquela espécie de corrimão seboso.
- Merda!
“Ainda acredito”.